sexta-feira, 30 de abril de 2010
"Se sentisse o que sinto por você..."
Hoje acordei sentindo o seu cheiro. Tateei pela cama, em vão, procurando seu corpo.
Ao abrir os olhos e constatar o óbvio, você não estava ali, senti um frio,um vazio...
Antes isso era tão constante. Aquela ilusão da sua presença perto de mim. Eu o via em todos os lugares, o sentia como se estivesse ao meu lado.
Julgava que os anos haviam me fortalecido. Que o tempo fora o suficiente para enterrar tantas lembranças. E agora, sentado em minha cama, posso até mesmo ouvir sua voz pedindo-me para que deite de novo.
Nunca nos deitamos juntos neste leito, nesta casa. Não deveria existir qualquer resquício seu aqui. Tão tola sou eu em não notar que não é nos objetos e lugares que sua lembrança reside e sim em mim. No meu corpo, na minha alma. Em cada pedaço meu que recebeu um beijo seu.
Eu queria, só queria, que você também se sentisse assim. Que também me procurasse entre os lençóis, que sentisse o meu gosto, de repente, em sua boca e não conseguisse se livrar dele. Queria saber que eu também o assombro, que o faço sentir frio até dias quentes.
Balanço a cabeça como se esse ato pudesse trazer-me de volta a realidade. Que realidade? Esta é a realidade.
Imagino que agora eu deva tomar um banho frio e um café quente. Atolar-me em deveres e compromissos que me façam perder as noites de sono para assim não sonhar com você.
A mesma fuga infantil de sempre. Fugindo de mim mesmo enquanto finjo que fujo de você. Até quando? Até quando inventarei desculpas para ocultar as saudades? Até quando vou fingir não perceber que o rancor e a mágoa a muito se foram, deixando no lugar apenas a nostalgia dos bons momentos?
Seria tão simples se eu pudesse falar-lhe tudo isso. Se tivesse a certeza que o veria sorrir dizendo que sentia o mesmo. Que não havia mais lugar para sentimentos ruins entre nós, que poderíamos dar uma chance a nós mesmos.
Tão tola sou em tentar mascarar as saudades, quanto sou em fantasiar um reencontro cheio de sorrisos e perdão. De todo jeito me engano, com realidades que não existem e nem poderiam existir.
Suspiro longamente enrolando-me nas cobertas e saindo do quarto. Meu coração descompassado sugere-me tantas ações insensatas que preciso fazer meus passos firmes para abafar seu som.
Não quero e nem posso deixar-me levar por seus caprichos. Abandonar meu orgulho e procurar por alguém que sequer deve lembrar meu nome. Para quem aquelas horas que passamos juntos nada devem ter significado.
Ando mais rápido em direção a lugar algum, num desespero mudo. As lágrimas vêm aos meus olhos como há tempos não as sentia. Em meio aos meus passos trôpegos acabo pisando na coberta que me envolve, indo ao chão.
Não consigo levantar. Nem dessa queda, nem de queda alguma. Estou caída, abraçando meu próprio corpo, desde o dia em que o deixei embora. Desde o dia em que o fiz escolher e não fui escolhida.
Será que não conseguiu ver? Eu queria ser a única , a única para você. Em alguma coisa, em qualquer coisa. Por que sempre tinha que aceitar compartilhá-lo?
Maldição! Maldito seja! Sua voz sequer falhou quando mostrou sua decisão de não me ver mas , seus olhos sequer se voltaram para trás naquele último momento. Você se foi de cabeça erguida, sem demonstrar qualquer arrependimento.
Se naquele momento você tivesse engolido a sua soberba, teria visto meus olhos rasos, minha mão que se erguia a você num pedido mudo para que ficasse.
O som dos soluços ecoam pela sala vazia. Sequer sei direito como cheguei aqui. É assim toda vez. Toda vez que penso em vc.
Acabo rindo entre meu choro, com uma mão sobre meus lábios. Nesse momento, se você me visse assim... iria achar graça. Até mesmo eu acho graça.
Levanto-me secando as lágrimas e juro a mim mesmo que isso não irá acontecer de novo. Que nunca mais vou ver você vindo na minha direção, que nunca mais vou sentir seu cheiro, seu gosto. Que nunca mais vou me arrepiar como se seus dedos estivessem tocando minha pele.
Não vou mais olhar para o telefone e me imaginar ouvindo sua voz do outro lado da linha. Jamais pensarei em como seria se eu pedisse perdão.
Eu errei tanto quanto você. E meu orgulho é tão grande quanto o seu. Tão grande que nunca me permitiria dizer que nada...
...Nunca me fez tão feliz. Tão feliz quanto você me fez.
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