sexta-feira, 30 de abril de 2010

"Todos os dias matam o amor"


Todos os dias matam o amor.Quase nunca percebemos ,mas todos os dia morre um amor.As vezes de forma lenta e gradativa,quase indolor,após anos e anos de rotina.As vezes melodramaticamente,como nas piores novelas mexicanas,com direito a bate-boca vexaminosos,capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos.
Morre em uma cama de motel ou em frente a televisão de domingo.Morre sem beijo antes de dormir,sem mãos dadas , sem olhares compreensivos,com gosto de lágrimas nos lábios.
Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados,cartas cada vez mais concisas,beijos que esfriam aos poucos.Morre da mais completa e letal inanição.
Todos os dias morre um amor.As vezes com uma explosão , quase sempre com um suspiro.Todos os dias morre um amor,embora nós, românticos mais na teoria que na prática,relutamos em admitir.Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso.de saber que, mais uma vez, um amor morreu.Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa.E está é a lição: amores morrem.
Todos os dia um amor é assassinado.Com adaga do tédio,com a indiferença,com a metralhadora da traição.A sacola de presente devolvidos,os ponteiros tiquetaqueando no relógio ,o silêncio insuportável depois de uma discursão:todo crime deixa evidências.
Todos nós fomos assassinos um dia. Há aqueles que como o Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem se esconder debaixo da cama, ao lado do bicho papão.Outros confessam sua culpa em altos brados e fazem de piníco os ouvidos de infelizes garçons. Há aqueles que negam,veementemente, participação no crime e buscam por novas vítimas em salas de chat ou pistas de danceteria sem dor ou remorso.Os mais periculósos aproveitam sua experiências de criminosos para escrever livros de alto-ajuda,com nome paradoxais como,"O amor inteligente" ou românces açucarados de bancas de jornais,do tipo "A paixão tem olhos azuis",difundindo ao mundo ilusões fatais aos corações sem cicatrizes.
Existem amores que clamam por um tiro de misericórdia : córceis feridos.
Existem os amores zumbis,aqueles que se recusam admitir que morreram.São capazes de perdurar anos,mortos vivos pela terra teimando em resistir á base de cama separadas,beijos burocráticos , sexo sem tesão.Estes não querem ser sacrificados e, á semelhanças dos zumbis hollywoodianos,também se alimentam de cérebro humanos e definharão até se tornarem laranjas chupadas.
Existem amores vegetais,aqueles que vivem em permanente estado de letargia,comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim dos seus dias o sorriso daquela ruivinha da 4º série ou entre fãs que até hoje suspiram em frente a um pôster do Elvis Plesley (e pior da fase havaiana).Mas titubeio em dizer que isso possa ser classificado como amor( Ahhh isso não é amor, amor vivido só do pescoço para cima não é amor).
Existem ,por fim, os AMORES FENIX .Aquele que, apesar da luta diária pela sobrevivência,dos preconceitos da sociedade,das contas a pagar,da paixão que escaceia com o decorrer dos anos,da mesa redonda no final de domingo,das calcinhas penduradas no chuveiro , das toalhas molhadas sobre a cama e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram:teimosos , belos , cegos e intensos.Mas estes são raríssimos e há quem duvide da sua existência.Alguns o chamaram de amores unicórnio,porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido , a não ser como lendas.

"Se sentisse o que sinto por você..."



Hoje acordei sentindo o seu cheiro. Tateei pela cama, em vão, procurando seu corpo.
Ao abrir os olhos e constatar o óbvio, você não estava ali, senti um frio,um vazio...
Antes isso era tão constante. Aquela ilusão da sua presença perto de mim. Eu o via em todos os lugares, o sentia como se estivesse ao meu lado.
Julgava que os anos haviam me fortalecido. Que o tempo fora o suficiente para enterrar tantas lembranças. E agora, sentado em minha cama, posso até mesmo ouvir sua voz pedindo-me para que deite de novo.
Nunca nos deitamos juntos neste leito, nesta casa. Não deveria existir qualquer resquício seu aqui. Tão tola sou eu em não notar que não é nos objetos e lugares que sua lembrança reside e sim em mim. No meu corpo, na minha alma. Em cada pedaço meu que recebeu um beijo seu.
Eu queria, só queria, que você também se sentisse assim. Que também me procurasse entre os lençóis, que sentisse o meu gosto, de repente, em sua boca e não conseguisse se livrar dele. Queria saber que eu também o assombro, que o faço sentir frio até dias quentes.
Balanço a cabeça como se esse ato pudesse trazer-me de volta a realidade. Que realidade? Esta é a realidade.
Imagino que agora eu deva tomar um banho frio e um café quente. Atolar-me em deveres e compromissos que me façam perder as noites de sono para assim não sonhar com você.
A mesma fuga infantil de sempre. Fugindo de mim mesmo enquanto finjo que fujo de você. Até quando? Até quando inventarei desculpas para ocultar as saudades? Até quando vou fingir não perceber que o rancor e a mágoa a muito se foram, deixando no lugar apenas a nostalgia dos bons momentos?
Seria tão simples se eu pudesse falar-lhe tudo isso. Se tivesse a certeza que o veria sorrir dizendo que sentia o mesmo. Que não havia mais lugar para sentimentos ruins entre nós, que poderíamos dar uma chance a nós mesmos.
Tão tola sou em tentar mascarar as saudades, quanto sou em fantasiar um reencontro cheio de sorrisos e perdão. De todo jeito me engano, com realidades que não existem e nem poderiam existir.
Suspiro longamente enrolando-me nas cobertas e saindo do quarto. Meu coração descompassado sugere-me tantas ações insensatas que preciso fazer meus passos firmes para abafar seu som.
Não quero e nem posso deixar-me levar por seus caprichos. Abandonar meu orgulho e procurar por alguém que sequer deve lembrar meu nome. Para quem aquelas horas que passamos juntos nada devem ter significado.
Ando mais rápido em direção a lugar algum, num desespero mudo. As lágrimas vêm aos meus olhos como há tempos não as sentia. Em meio aos meus passos trôpegos acabo pisando na coberta que me envolve, indo ao chão.
Não consigo levantar. Nem dessa queda, nem de queda alguma. Estou caída, abraçando meu próprio corpo, desde o dia em que o deixei embora. Desde o dia em que o fiz escolher e não fui escolhida.
Será que não conseguiu ver? Eu queria ser a única , a única para você. Em alguma coisa, em qualquer coisa. Por que sempre tinha que aceitar compartilhá-lo?
Maldição! Maldito seja! Sua voz sequer falhou quando mostrou sua decisão de não me ver mas , seus olhos sequer se voltaram para trás naquele último momento. Você se foi de cabeça erguida, sem demonstrar qualquer arrependimento.
Se naquele momento você tivesse engolido a sua soberba, teria visto meus olhos rasos, minha mão que se erguia a você num pedido mudo para que ficasse.
O som dos soluços ecoam pela sala vazia. Sequer sei direito como cheguei aqui. É assim toda vez. Toda vez que penso em vc.
Acabo rindo entre meu choro, com uma mão sobre meus lábios. Nesse momento, se você me visse assim... iria achar graça. Até mesmo eu acho graça.
Levanto-me secando as lágrimas e juro a mim mesmo que isso não irá acontecer de novo. Que nunca mais vou ver você vindo na minha direção, que nunca mais vou sentir seu cheiro, seu gosto. Que nunca mais vou me arrepiar como se seus dedos estivessem tocando minha pele.
Não vou mais olhar para o telefone e me imaginar ouvindo sua voz do outro lado da linha. Jamais pensarei em como seria se eu pedisse perdão.
Eu errei tanto quanto você. E meu orgulho é tão grande quanto o seu. Tão grande que nunca me permitiria dizer que nada...
...Nunca me fez tão feliz. Tão feliz quanto você me fez.