segunda-feira, 3 de maio de 2010

"Liberdade:Uma conquista do homem"


O que é ser livre? Como o homem pode ser livre? Seria uma possibilidade utópica?

Mal entendida, negada, almejada, sobretudo usurpada a liberdade sempre foi uma questão fundamental para a humanidade.

"Liberdade, essa palavra
Que o sonho humano alimenta
Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda"
Cecília Meireles


Há sempre questões, dúvidas e impossibilidades. Como serei livre com o pai que tenho? ...Ah! Quando eu me casar!... Depois do casamento pode ainda não sentir-se livre e novamente buscar soluções para iludir-se. Por que o ser humano tão freqüentemente é infiel? Será que aí julga-se livre? Estará ele realmente livre?

Liberdade não implica em falta de educação, ninguém precisa ser inconveniente ao meio para conseguir ser livre, mas deve impedir que o meio seja inconveniente a si para roubar-lhe a liberdade.

O homem sempre se fez prisioneiro de angústias, medos, culpas, solidão, impossibilidade de agir, padrões pré determinados, doutrinas, normas, dogmas etc. Pode então libertar-se buscando o autoconhecimento e realizando-se. Tornando-se responsável por suas escolhas.

Para Sartre o homem é a sua liberdade e está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto é livre, uma vez que foi lançado no mundo é responsável por tudo que faz.

Segundo Jaspers, só nos momentos em que exerço minha liberdade é que sou plenamente eu mesmo. Assim será o indivíduo autêntico, autônomo, autodeterminado.

Ser e fazer implicam em liberdade. A condição primordial da ação é a liberdade. Liberdade é essencialmente capacidade de escolha. Onde não existe escolha, não há liberdade. O homem faz escolhas da manhã à noite e se responsabiliza por elas assumindo seus riscos (vitórias ou derrotas). Escolhe roupas, amigos, amores, filmes, músicas, profissões... A escolha sempre supõe duas ou mais alternativas; com uma só opção não existe escolha nem liberdade.

As escolhas nem sempre são fáceis e simples. Escolher é optar por uma alternativa e renunciar à outra ou às outras.
Não existe liberdade zero ou nula. Por mais escravizada que se ache uma pessoa, sempre lhe sobra algum poder de escolha. Também não há liberdade infinita, ninguém pode escolher tudo.
Na facticidade somos limitados, determinados. Um ótimo exemplo nos é dado por Luís Fernando Veríssimo quando descreve: "poderia se dizer que livre, livre mesmo, é quem decide de uma hora para outra que naquela noite quer jantar em Paris e pega um avião. Mas, mesmo este depende de estar com o passaporte em dia e encontrar lugar no avião. E nunca escapará da dura realidade de que só chegará em Paris para o almoço do dia seguinte. O planeta tem seus protocolos".
Contra o senso comum "ser-livre" não significa "obter o que se quis", mas sim "determinar-se por si mesmo a querer" (no sentido de escolher). O êxito não importa em absoluto à liberdade. O conceito técnico e filosófico de liberdade significa: autonomia de escolha, não fazendo distinção entre intenção e ato.

O ato livre é, necessariamente, um ato pelo qual se deve responder e responsabilizar-se. Porque sou livre tenho que assumir as conseqüências de minhas ações e omissões.
Os animais irracionais não são livres, não são responsáveis pelo que fazem ou deixam de fazer. Ninguém pode condenar um cavalo que lhe deu um coice. O animal não faz o que quer e sim o que precisa ou o que se encontra determinado pelo instinto de sobrevivência para que continue existindo.

O próprio vôo de um pássaro está sujeito às leis da Física. Kant brincava com essa idéia, imaginando uma pomba indignada contra a resistência do ar que a impediria de voar mais depressa. Na verdade, argumenta, é justamente essa resistência que lhe serve de suporte, pois seria impossível voar no vácuo.

"Não me apontes o caminho,
o rumo certo pra chegar ao cimo.
Deixa-me encontrá-lo para que seja
meu...
Não me reveles a mais brilhante estrela,
Aquela que te guia.
Eu buscarei a minha...

Não me estendas a mão quando eu cair.
Em tempo certo, em hora exata,
Eu ficarei de pé...

Não te apiedes de mim.
É minha estrada, é minha estrela,
É meu destino.

Deixa apenas que eu seja.
Sem ti..."
Andreia Mataveli

O homem para Sartre não pode ser ora livre, ora escravo. Ele é totalmente e sempre livre, ou não o é.

A liberdade não é alguma coisa que é dada, mas resulta de um projeto de ação. É uma árdua tarefa cujos desafios nem sempre são suportados pelo homem, daí resultando os riscos de perda de liberdade pelo homem que se acomoda não lutando para obtê-la.

Dora Lucia Alcantara
Psicóloga e Psicoterapeuta Existencial

Não quero cinza...


Engraçado, essa frase tá na minha cabeça desde terça feira durante um período de insônia, problema que eu venho enfrentando há algum tempo. Não me lembro porque ela surgiu e no que eu estava pensando, essa parte o sono apagou. Mas hoje, o cinza me faz sentindo, de alguma outra maneira.

Perguntando para minha mãe sobre alguma mania que eu tinha, ela respondeu super rápido que eu não termino nada. Não termino a comida do prato, não termino a bebida do copo, o refrigerante fica sem gás na geladeira, o chocolate derrete, o café esfria, o suco esquenta.. Nunca tinha percebido ou me dado conta disso, mas realmente eu não termino. Para minha mãe, isso é uma espécie de TOC. Para mim é o poder de decisão e saber até quando você quer alguma coisa. Eu como ou bebo até aquilo me satisfazer, depois não quero mais. “Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer o que quero”. E para mim isso é a minha personalidade, viver por mim, os meus momentos.

É difícil percebemos que algumas vezes vivemos por outros, pelos outros. Na forte tentativa de sempre agradar, começamos a mudar quem somos de verdade. Precisamos viver pela gente, ser feliz com a gente. Só consegue ser feliz com alguém quem primeiro é feliz sozinho. “Eu não quero uma verdade inventada”, nem uma personalidade não pessoal. Quero integridade, fazer pelos outros é não ser inteiro, é fazer pela metade.
E então é ai que o cinza aparece. Eu não quero metades, porque para mim, não é possível ser bom pela metade. Metade é incompleto e eu não quero nada que não seja inteiro. Não quero viver de apesares e de talvez. Me cansa a incerteza, porque eu acredito na decisão. Gosto de controle, de rotina e do esperado. Sou o extremo, mas sou simples. Não quero nada complicado e falando assim pareço ser exigente, mas não. Eu quero muito, mas são coisas simples.

Eu quero ter medo do novo, de viver o que não conheço. Quero entender ou fingir que entendo. Não quero me entregar a desorientação. Não gosto de surpresas, quero hora marcada pra vida, detesto esperar. Quero dormir quando estiver cansada, passar o final de semana na praia se me der vontade. Quero ter momentos de paz, quero ler, quero silêncio. Quero ser feliz, tomar banhos de chuva, olhar o mar e ver as estrelas. Quero uma nova tatuagem, comer brigadeiro de panela sem ouvir broncas. Gosto de aproveitar meu tempo e da minha própria companhia. Adoro piadas e quero rir até a barriga doer. Quero ter pastas estranhas no ipod com músicas completamente diferentes, pelo simples fato do mesmo ritmo me enjoar. Quero olhar pra frente e só quando for preciso para trás. Quero sentir menos culpa, entender que toda ação tem reação. Quero saber agir e também a reagir, quero ordem no trabalho e bagunça no meu quarto. Quero dormir encostada na parede, quero janelas fechadas, quero escuro, aceitar menos e indagar mais. Quero menos ‘mas’, não quero sentir tanta saudade, quero cantar mesmo desafinada, quero perdoar a mim e os outros. Quero ser correta, berrar quando me sentir sufocada e chorar quando estiver triste. Quero ficar em casa às sextas feiras sem pensar que deveria estar na balada. Não quero peso na consciência e nem dormir com vontade. Quero viver com sentindo, quero tocar o coração de alguém. Quero amar e ser amada, respeitar e ser respeitada. Quero carinho, beijo e abraço. Quero verão, outono, inverno e primavera. Quero vencer e também aprender a perder. Quero acreditar no amor verdadeiro, em casamento e na fidelidade. Quero aceitar as pessoas, me esquentar no sol, ser responsável por mim mesma, não quero me comparar e nem ser comparada. Quero continuar sem entender matemática, muito menos física. Quero passar longe da biologia e da química. Quero saber o básico do geral e ir afundo no que eu gosto. Quero a certeza do destino, mesmo que o trajeto mude. Quero ser menos cruel e sentir menos raiva. Quero ser cada vez mais forte, ir cada vez mais longe, quero dar valor à vida e ter valor diante dela. Não quero ser vítima, sou autoritária, teimosa e impulsiva. Quero continuar sendo desastrada, não quero arrumar a cama e nem ter uma vida doméstica. Quero ser maior que meus sonhos e viver a realidade.

Quero sim ou não, quero por completo, nem quem sabe e nem talvez. Não quero meio termo, quero preto ou branco, não quero o cinza, para mim ele é a ausência de cor, é o meio entre um e o outro. Quero aproveitar o tempo que me é dado, quero compromisso, não quero desafeto e nem desapego. Quero essência, conteúdo. Eu tenho pressa e quero gente humana.

Quero que seja pra valer e se não for então não me serve. Quero quem luta, quem conquista e quem vai atrás. Quero que me roubem a solidão e me ofereçam verdadeira companhia. Não é muita coisa, de tudo que eu quero o mais complicado seria talvez ouvir os pensamentos de Deus e contrario de tudo que falei em cima, dessa vez eu me contento apenas com ele ouvindo os meus.

"Coisa que eu queria entender"


Eu não entendo muitas coisas. Um último adeus que não existiu porque alguém se foi, o desejo de tirar a dor do coração de uma pessoa querida que ficou, mas não conseguir, tentar falar coisas que só saem bacanas quando cantadas, explicar para alguém que a vida pede pressa e que existe sim, o bem, e a porcaria do mal.

Eu não entendo muitas coisas, e as vezes isso incomoda. É uma frustração? É uma incapacidade?

O mundo é bravo demais com as pessoas. O mundo contou uma mentira para as pessoas e disse que perguntar “por que” significa ser folgado. Então todo mundo dorme e acorda com dúvidas. Todo mundo dorme e acorda sem boas respostas. Todo mundo dorme e acorda sem conhecer Deus.

Existe uma coisa muito tênue nisso tudo:

Nem sempre perguntar “por que?” para Deus, significa que vc tá revoltado com ele. As vezes, você está realmente perdido! E quem se perde precisa de direções, certo? Quem se perde precisa encontrar rumo. Muita vezes o seu “por que” não coloca em dúvida a bondade e o cuidado de Deus. Na verdade, alguns “por quês” significam “pra onde eu vou agora? o que eu preciso fazer? me ajuda a ver além dessa dor? como eu tenho que viver agora?”

Se suas questões não ferem a santidade de Deus, você tem respostas. Se suas questões são tão sinceras quanto o desejo de um acerto, então você não está falando sozinho. Se suas questões não são curiosidades vazias que vão contra o que Deus é, o que pode fazer, e o que já fez, então você está seguro. Se suas questões não são desconfianças, então você está agindo como filho. Ser filho é aprender.

Muitas vezes o seu “por que” já é a sua resposta. É você dizendo “olha Deus, eu não sei”.

Ontem eu vi a dor na cara de pessoas queridas e perguntei.
Não por revolta, mas por amor, porque a dor também era um pouco minha.
Não por rebeldia ou ingratidão, mas justamente por querer fazer o melhor, por não querer errar. Todo mundo quer acertar, certo?

A resposta que eu tive foi seca de tão certeira: “eu abro caminhos no deserto. No deserto das suas dúvidas, da sua falta de informação, certeza e fé”.

Caminhos no deserto. Pare pra pensar nisso! Caminhos definidos num lugar onde você pode transitar para qualquer lado. Deus faz isso: ele abre caminhos certeiros no meio de imensidões. No meio de situações onde errar pode parecer compreensível.

Se fosse na Av. Paulista você leria placas. Se fosse na Santo Amaro você tomava um ônibus. Se fosse na Sé você ia de metrô. Mas e no deserto? E nas questões que ninguém aparece pra te indicar direção alguma? E na morte? E na falta? E na dor? E na frustração de poder ter sido melhor? E nas crises sem pé ou cabeça? Quando Deus fala de deserto, não acho que ele esteja brincando com os nossos sentimentos, né?

Abrir caminhos no deserto é tão improvável quanto uma dor inexplicável. E é aí que Deus entra e propõe:
Você pode entreter a sua mente com questões sobre a dor. Ou você pode aprender mais sobre como as improbabilidades de Deus são lindas.

A dor existe. Os questionamentos também. Você é uma pessoa que precisa de informações. Mas nunca a resposta vai ser exatamente aquilo que você espera. Vai ser tão estranha quanto um caminho no deserto. Um consolo apesar da dor, uma música que canta o que você gostaria de falar. Deus opera desse jeito, porque se a relação com ele fosse um joguinho de perguntas e respostas a beleza e o mistério dos pequenos milagres não existiriam.

Se você está no deserto, o Céu está bem na sua cabeça. E se você sabe que o Céu é maior que o deserto, não hesite em olhar para cima e procurar por coisas que você ainda não conhece.

O seu “por que” com sinceridade pode abrir caminhos no deserto por causa da fé e da vontade de acertar.
O seu “não sei” desabafado no altar pode conquistar o coração do Céu por causa da humildade de não querer se virar sozinho.

Eu não entendo muitas coisas. A maneira como isso tudo faz sentido é uma delas.