segunda-feira, 3 de maio de 2010

"Coisa que eu queria entender"


Eu não entendo muitas coisas. Um último adeus que não existiu porque alguém se foi, o desejo de tirar a dor do coração de uma pessoa querida que ficou, mas não conseguir, tentar falar coisas que só saem bacanas quando cantadas, explicar para alguém que a vida pede pressa e que existe sim, o bem, e a porcaria do mal.

Eu não entendo muitas coisas, e as vezes isso incomoda. É uma frustração? É uma incapacidade?

O mundo é bravo demais com as pessoas. O mundo contou uma mentira para as pessoas e disse que perguntar “por que” significa ser folgado. Então todo mundo dorme e acorda com dúvidas. Todo mundo dorme e acorda sem boas respostas. Todo mundo dorme e acorda sem conhecer Deus.

Existe uma coisa muito tênue nisso tudo:

Nem sempre perguntar “por que?” para Deus, significa que vc tá revoltado com ele. As vezes, você está realmente perdido! E quem se perde precisa de direções, certo? Quem se perde precisa encontrar rumo. Muita vezes o seu “por que” não coloca em dúvida a bondade e o cuidado de Deus. Na verdade, alguns “por quês” significam “pra onde eu vou agora? o que eu preciso fazer? me ajuda a ver além dessa dor? como eu tenho que viver agora?”

Se suas questões não ferem a santidade de Deus, você tem respostas. Se suas questões são tão sinceras quanto o desejo de um acerto, então você não está falando sozinho. Se suas questões não são curiosidades vazias que vão contra o que Deus é, o que pode fazer, e o que já fez, então você está seguro. Se suas questões não são desconfianças, então você está agindo como filho. Ser filho é aprender.

Muitas vezes o seu “por que” já é a sua resposta. É você dizendo “olha Deus, eu não sei”.

Ontem eu vi a dor na cara de pessoas queridas e perguntei.
Não por revolta, mas por amor, porque a dor também era um pouco minha.
Não por rebeldia ou ingratidão, mas justamente por querer fazer o melhor, por não querer errar. Todo mundo quer acertar, certo?

A resposta que eu tive foi seca de tão certeira: “eu abro caminhos no deserto. No deserto das suas dúvidas, da sua falta de informação, certeza e fé”.

Caminhos no deserto. Pare pra pensar nisso! Caminhos definidos num lugar onde você pode transitar para qualquer lado. Deus faz isso: ele abre caminhos certeiros no meio de imensidões. No meio de situações onde errar pode parecer compreensível.

Se fosse na Av. Paulista você leria placas. Se fosse na Santo Amaro você tomava um ônibus. Se fosse na Sé você ia de metrô. Mas e no deserto? E nas questões que ninguém aparece pra te indicar direção alguma? E na morte? E na falta? E na dor? E na frustração de poder ter sido melhor? E nas crises sem pé ou cabeça? Quando Deus fala de deserto, não acho que ele esteja brincando com os nossos sentimentos, né?

Abrir caminhos no deserto é tão improvável quanto uma dor inexplicável. E é aí que Deus entra e propõe:
Você pode entreter a sua mente com questões sobre a dor. Ou você pode aprender mais sobre como as improbabilidades de Deus são lindas.

A dor existe. Os questionamentos também. Você é uma pessoa que precisa de informações. Mas nunca a resposta vai ser exatamente aquilo que você espera. Vai ser tão estranha quanto um caminho no deserto. Um consolo apesar da dor, uma música que canta o que você gostaria de falar. Deus opera desse jeito, porque se a relação com ele fosse um joguinho de perguntas e respostas a beleza e o mistério dos pequenos milagres não existiriam.

Se você está no deserto, o Céu está bem na sua cabeça. E se você sabe que o Céu é maior que o deserto, não hesite em olhar para cima e procurar por coisas que você ainda não conhece.

O seu “por que” com sinceridade pode abrir caminhos no deserto por causa da fé e da vontade de acertar.
O seu “não sei” desabafado no altar pode conquistar o coração do Céu por causa da humildade de não querer se virar sozinho.

Eu não entendo muitas coisas. A maneira como isso tudo faz sentido é uma delas.

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